quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Este não é um texto de hoje, mas sim um texto que usei para um concurso. Espero que gostem. Um sorriso e um beijinho no coração.
 
 "Enquanto os meus pensamentos ecoavam na minha cabeça por entre a frágil espuma do lavar da loiça, senti um calafrio doce e terno. Olhei de soslaio para o alpendre da casa e nele revi o mar que naquela tarde me tinha envolvido em memórias e devolvido prazeres antigos. A irritação começa a sobressair na minha face quando penso nele. Porque voltas-te porque? Retiro a toalha da mesa e coloco sobre ela a fruteira tão colorida que me faz ficar mais nervosa, tudo é cor, tudo é tão bonito á minha volta e eu sinto-me negra, não tenho cor, não tenho vida, não tenho esperança.
Pego no comando e ligo a televisão sem saber o canal ou o que mesmo quero ver. Viro e reviro os canais paralelamente á medida que vou virando e revirando as páginas mais antigas da minha vida. De repente fico estagnada e coloco as mãos a tapar a boca como um movimento louco ou infantil. Tive medo de deslocar-me até á porta e abri-la pois naquele instante tive a certeza que eras tu. O teu odor, o mesmo que vinha embrenhado na carta que me envias-te, atravessava aquela porta velha e meia descascada, fruto do tempo e da história.
Levantei-me e fiquei parada. Movi um pé e depois o outro. Recuei três passos e a campainha voltou a tocar agora de forma mais carregada e audaz. Pé ante pé encaminhei me até á entrada, contei até três, respirei fundo, rodei a maçaneta desgasta da porta e apareci de forma tímida. Perdi a fala e a capacidade de pestanejar ou mover qualquer parte do corpo. Ali estavas tu, estavas na mesma. Os teus olhos cor de avelã demasiado expressivos e atentos combinavam na perfeição com o teu doce sorriso e a barba meia feita. Mantinhas a elegância no andar e o teu ar sempre fora jovial.
Comecei a tremer como se de algo mau se trata-se, e senti o meu sorriso fazer-se notar. Senti a tua mão junto da minha, e ainda não tínhamos dito nada. Aproximaste-te e deste-me um abraço tão amoroso quanto caloroso, tal e qual aos de antigamente. Senti aquela sensação que eu tanto gostava, de quando roçavas a tua barba na minha, agora, corada bochecha e o canto da tua boca colou-se ao meu. Freneticamente fechei a porta e senti o quente do teu beijo e a tua língua forçava que os meus lábios se abrissem. Tentei cerrar os dentes e não deixar passar aquela comoção, mas tu sempre soubeste bem como me fazer não resistir. E mais uma vez tomas-te conta de mim, de forma tão preliminar e ousada. Senti o leve beijo tocar-me todo o corpo á medida que as tuas mãos ganhavam asas e me despiam o medo que se ia arrastando com as roupas, jogadas e caídas pela casa. Parei por segundos e olhei esses deliciosos olhos e ouvi a tua boca pronunciar de forma destemida um “Amo-te”. Lançaste-me o maior sorriso e senti-te dentro de mim, junto a mim, perto de mim. Pedi para que nunca mais daqui saísses e que jamais voltasses a partir. Fizemos amor, não sei durante quanto tempo, não o contei e este era sim um factor sem importância. Sei que no fim, ali estávamos sobre a minha amarrotada cama, nus e receosos do que o que cada um iria falar. Deitei-me sobre o teu peito e pedis-te que não falasse e apenas sentisse. Deste-me a tua mão e absorvidos numa onda profunda de sentimentos e incertezas adormeci.
Acordei algum tempo depois tentando entender se acordará de um sonho ou se estava a despertar para a realidade. Não estavas do meu lado e não havia vestígios de ti. Levantei-me de forma repentina e percorri cada compartimento da casa numa tentativa de te encontrar. Olhei então aquela estúpida e sorridente fruteira e ao seu lado um bilhete dobrado ao meio e penetrado por letras bem desenhadas. Reconhecia de imediato e atentei nas palavras:

“Maria:
Não penses que sou ingrato ou que vim apenas para dois momentos de prazer e uma noite de sexo. Vim porque precisava de ter a certeza que ainda me amas da mesma maneira como eu te amo. O teu respirar no meu peito fez me perceber tudo. Não me procures porque é o mais certo, o destino vai-se encarregar de tal!
Um beijo, Pedro”"

15 comentários:

  1. muito obrigada. é bastante agradável saber que é essa a tua opinião :)

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  2. Obrigada pelo comentário querida.
    Gostei bastante do texto... foi para que concurso? como correu?

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  3. não estava bem a falar de jogos, era mais uma metáfora do que outra coisa :)

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  4. tu também, ainda por cima depois de acabar de ler isto :)
    que concurso foi?

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  5. é assim mesmo, gosto desse pensamento. Nunca desistas, haverão mais oportunidades :)

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  6. parabéns então, está muito bem descrito.

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  7. isso é bom! e vale sempre a pena participar :)

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  8. oh, a vida já é tão difícil para quê complicá-la mais? ser pateta é o melhor! :D

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  9. Obrigada princesa, escreves sempre bem!

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  10. Tão bonito foi te ler hoje, mesmo de alma cansada aqui ganhei forças. Lindo mesmo.

    Um Beijinho.

    (Desculpa pelo comentário de hoje, amanhã compenso) :)

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  11. não é uma relação... não é nada. mas é instável.
    a última frase, da maria e do pedro, foi em que contexto? fictício ou real?

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  12. ah, porque identifiquei-me um bocado.

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  13. mais ou menos. não no sentido literal, é esquisito de explicar.

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"Presenteia-me com Amor." <3